19/04/16

"Encruzilhada"

© Fotografia Ricardo Cruz

Sou uma pessoa francamente orgulhosa das minhas origens e do meu País. No entanto, há momentos em que tenho imensa vergonha de pertencer a este País. Sim, é verdade e peço desde já desculpa se feri susceptibilidades. No domingo, ao assistir a uma reportagem na TVI, foi um desses momentos. Como é que é possível que se percam vidas e que nada seja feito para pôr um fim a tais situações? Como é que se fecha os olhos perante os problemas e se age como se não acontecesse? Não entendo. Não estamos a falar de objectos, estamos a falar de pessoas. De famílias. Da nossa gente. Porque motivo as entidades competentes não fazem o que lhes compete e cuidam de todas estas pessoas? Expliquem-me como é possível que tenhamos os nossos polícias a viver em camaratas, sem qualquer tipo de condições, sem dignidade? Ninguém merece viver assim. NINGUÉM! Diziam, na reportagem, que “não temos as pessoas certas nos sítios certos”. Talvez seja esse o problema. Todos querem ir para o poleiro, mas não querem ter trabalho. Não têm o cuidado de pôr mãos aos problemas e tratar de os resolver. Não se faz nada. Ignora-se o problema, afinal “não é nada connosco”. Temos casa, família, trabalho, carro. Não precisamos de contar o dinheiro para chegar ao fim do mês e conseguirmos pagar as contas. Não temos de contar o dinheiro para termos a capacidade de pôr comida na mesa. É um egoísmo tremendo. Egoísmo e falta de respeito para com quem, diariamente, põe a vida em risco para nos salvar. Para VOS salvar, Senhores Ministros. Invertam os papéis e sejam vocês a salvar-lhes a vida desta vez. São pessoas. Pessoas com tendências suicidas. Pessoas com dificuldades em todos os aspectos. Estas pessoas, estes agentes, necessitam de apoio psicológico. Apoio esse que não existe, pelo simples facto destes agentes não terem dinheiro para o financiar. Agora eu pergunto: Não deveria este ser um apoio à disposição dos agentes, sem que estes se vissem obrigados a pagar para poder usufruir? Revolta-me a arrogância e a falta de interesse por parte de um tal Fernando Passos, que se diz Responsável do Gabinete de Psicologia da PSP. Que indiferença, que pessoa tão fria, que falta de interesse em relação a um assunto tão sério quanto este. Será que ninguém tem noção que este é, de facto, um assunto grave? É um problema que já há muito deveria ter sido resolvido. São vidas que se perdem. São filhos que ficam órfãos de pai. Pais que perdem os filhos. Mulheres que perdem os maridos. Maridos que perdem as mulheres. Criminosos tratados como réis, e agentes da Polícia tratados como se fossem criminosos. Parabéns, meu querido País, de facto tens evoluído bastante em diversas áreas. Merecemos dignidade. É o mínimo. Estas pessoas, não têm dinheiro nem para pagar a cantina aos filhos. Alguns, por vergonha, guardam para si. Tentam encontrar uma solução, sem terem que recorrer a terceiros. Vergonha de dizerem que, apesar de serem polícias, não têm dinheiro para pagar as despesas. Pessoas que não dão a cara, para se resguardarem a si e aos seus, mas que relatam toda a problemática que tentam esconder. Mas o problema existe. Diziam, aliás, “que nunca se bateu tanto no fundo”. Acordem! Está na hora de agir! Não deixem que este problema se continue a arrastar. Que se continuem a perder vidas. Não deixem que o número de suicídios continue a aumentar. No ano passado, foram 8 os polícias que puseram termo à vida. E este, é o único problema realmente impossível de solucionar. Mas é possível ainda, evitar que este maldito número continue a aumentar. É possível oferecer a estas pessoas os cuidados que necessitam. Mas nada cai do céu! É necessário que se reúnam esforços e, acima de tudo, que nestas situações se pense um bocadinho com o coração. “Vejo humanos, mas não vejo humanidade.” É isto que sinto. E é também isto que me envergonha e faz ver que, na verdade, limitamo-nos apenas a olhar para o nosso umbigo. Tudo o resto é indiferente. Assusta-me o facto de pertencer a um País no qual perdemos a nossa gente por coisas que podiam ser resolvidas. Somos de extremos. Para o bem e para o mal. Ninguém está atento aos sinais, aos sintomas que estas pessoas apresentam. Até que põem fim à vida, mas depois “que pena, era um gajo porreiro.” Não deixem que se bata no fundo para verem que está na altura de agir. Ajudem quem realmente precisa, invistam onde é realmente necessário investir. Não é normal que, durante uma formação de tiro, um agente tenha sido contaminado por substâncias altamente cancerígenas, tal como foi confirmado nas análises que fez, esteja a necessitar de repetir alguns exames, fazer outros, consultar outros especialistas.. Mas não há dinheiro. E não havendo dinheiro, não há tratamentos. É suposto deixar morrer estas pessoas? Não!!! É suposto cuidar. Apoiar. Tratar. Deixem-se de arrogância, de indiferença. Preocupem-se com os nossos. A nossa gente. Estes agentes são, na verdade, os heróis do quotidiano. Não só por selarem por nós, pela nossa segurança, mas também por tentarem manter-se à superfície, ainda que o mar esteja agitado e a tendência seja afogar-se. Caem eles e, por arrasto, cai a restante família também. Tocou-me profundamente, ao longo da entrevista, ter ouvido um agente a dizer que “se eu desaparecer, a minha família fica bem. O problema em si acaba.” Está errado! Estas pessoas, não são o problema. O problema está no País e em quem o governa. Que pensa que bom mesmo é estar no poleiro, é ter o título de Ministro disto ou daquilo. Esquecem-se, no entanto, do mais importante: Selar pelo País e pela nossa gente. Acordem. Ajam. Façam com que tenhamos orgulho do País ao qual pertencemos.  
Read More




Voltar ao Topo da página
Powered By Blogger | Design by Patrícia Caetano